— Nietzsche - "A Gaia Ciência" (Nossa Última Gratidão Para Com a Arte)
Simplificando as Coisas
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Enquanto fenômeno estético, a existência nos parece sempre suportável e, por meio da arte, nos demos os olhos e as mãos, sobretudo a boa consciência, para poder crer, por nós mesmos, em semelhante fenômeno. É preciso de vez em quando descansarmos de nós próprios, olhando-nos do alto, com uma distância artística, para rir, para chorar sobre nós: é preciso descobrirmos o heroi e também o louco que se escondem em nossa paixão pelo conhecimento; é preciso aqui e acolá sermos felizes com nossa loucura, para podermos continuar felizes com nossa sabedoria. E é precisamente porque somos no fundo homens pesados e sérios, e mais ainda pesos que homens, que nada nos faz mais bem que o capuz dos loucos: temos necessidade dele diante de nós mesmos - temos necessidade de toda arte petulante, flutuante, dançante, zombeteira, infantil e vem-aventurada para não perder essa liberdade que nos coloca acima das coisas e que nosso ideal exige de nós. Seria para nós um recuo cair inteiramente na moral, precisamente com nossa probidade irritável e, por causa das exigências muito severas que nisso temos por nós mesmos, acabar por nos tornarmos nós mesmos monstros e espantalhos de virtude. É preciso também que possamos nos colocar acima da moral: e não somente com a inquieta rigidez daquele que receia a todo o instante resvalar e cair, mas também poder plantar e brincar por cima dela! Como poderíamos para isso dispensar a arte e o louco - E enquanto ainda tiverem vergonha de vocês mesmos, em que quer que seja, não poderão ser dos nossos.
— Nietzsche - "A Gaia Ciência" (Nossa Última Gratidão Para Com a Arte)
— Nietzsche - "A Gaia Ciência" (Nossa Última Gratidão Para Com a Arte)
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Acende-se uma estrela no céu quando alguém diz que fazer determinada coisa faz com que sua vida "faça sentido completamente". Essa é, certamente, uma das coisas mais difíceis que alguém pode conseguir chegar a dizer na vida, se dita com absoluta certeza e honestidade. Considero plena uma pessoa que possa dizer isto e invejo por completo a pessoa que descobre o que traz sentido à sua vida ainda na juventude. Talvez seja este o maior desafio individualista de um ser humano. Provavelmente só ocorrerá em determinadas condições de temperatura e pressão. Alguns nunca terão estes condicionamentos. Outros simplesmente não os buscarão.
Difícil Ser Funcionário
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar…
Fazer seu nojo meu…
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar…
Fazer seu nojo meu…
(João Cabral de Melo Neto)
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Queria amarrar o tempo na perna da cama
Para que ele ficasse ali, quietinho e tranquilo
E não avexasse o coração de quem ama
Com essas aflições que escrevo em sigilo
Não ande, não mude, não fuja, não corra!
Fique assim, bem escondido, aqui
Para que esse momento de agora não morra
Sem que eu sinta que ele passou e eu não vi.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
[Manoel de Barros]
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
sábado, 14 de dezembro de 2013
terça-feira, 15 de outubro de 2013
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
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