Por que as coisas não são do jeito que a gente quer?
Por que o nosso "relacionar-se com as outras pessoas" não é do jeito que a gente quer?
Claro que, se assim fosse, não teria a menor graça.
Mas quem disse que tem que ser engraçado?
Engraçado mesmo é como a vida nos leva pra um caminho bem diferente do que a gente esperava.
E, nesse caminho, onde coisas inesperadas sempre acontecem, acabamos chegando em um ponto em que a gente se pergunta: e agora?
Pra quem tá acostumado a ter tudo planejado, a dançar conforme a música, e a cantar a letra de um modo bem afinado, parece que o mundo vai desabar (nada como terremotos e enchentes pra deixar isso bem claro).
E é nesse momento doido de incertezas que eu me encontro agora. Não só pelo fim do curso, que é mudança fenomenal na minha vida, mas pelo próprio momento simbólico que enseja uma mudança necessária.
E, na verdade, o problema é que essa mudança se refere a muitos aspectos.
Não é mais só aquela vozinha na minha consciência dizendo: Você tem que estudar Direito Positivo, decorar o código e não pensar mesmo, é o jeito!
Na verdade minha consciênca hoje em dia grita diversas outras coisas que, de repente, se mostram de uma maneira muito mais clara.
E assim, eu tou meio perdida.
E sem saber muito o que será desse ano de 2010.
Tou um saco hoje, o tédio em pessoa.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
A arte de ser feliz
Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles
Assinar:
Postagens (Atom)