quarta-feira, 30 de junho de 2010

Por Não Estarem Distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.

Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.

Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.

No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.

Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.

Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector

terça-feira, 8 de junho de 2010

La revolucion de las mujeres


Género con Clase

“Nenhuma mulher tem um orgasmo abrilhantando o chão de uma cozinha”

Betty Friedan

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Como é fácil permanecer confortavelmente sentada na minha escrivaninha lendo sobre teorias mirabolantes desenvolvidas em séculos passados.
Como é fácil passar a manhã na universidade pública (que as pessoas pagam pra mim) e a tarde estudando atentamente os livros (que comprei com a bolsa de estudos que a instituição me paga com o dinheiro que as pessoas lhe pagam), grifando com o meu marca-texto azul, e sentindo o cheirinho bom da janta que mamãe fez.
Como é fácil escrever pequenos e curtos pensamentos individuais e otimistas neste blog quando não tenho mais nada pra fazer.

Como é fácil saber que, mesmo que as coisas compliquem um pouco mais, provavelmente tudo ainda vai continuar sendo fácil. E essa facilidade é de uma mesquinhez tamanha, que torna-se incrivelmente difícil de ser suportada.