sábado, 19 de novembro de 2011

...] eu vi lágrimas naquele rosto. Vi, sim,
rosto de mulher. Ou quem sabe era homem? Não
dava pra dizer o certo. Mas chorava. Certeza, eu
só tive uma: era entendido. Entendido em sofri-
mento, em dor, em ser magoado, saber direitinho
o que é humilhação, vexame, até pancada.
Entendido em perder... Alguns perderam a digni-
dade; outros até a própria vontade de viver.
Entendido em preconceito no trabalho, nas ruas,
na família, na igreja. Entendido em AIDS.
Entendido em ouvir deboches na rua e caminhar
de cabeça baixa, tentando não ser notado. Ou
arrogantemente, com a cabeça erguida, olhando
desafiadoramente para as pessoas, disposto a
agredir antes de ser agredido... Entendido em
disfarces, mentiras. E muitas vezes quando olha
no espelho, não se vê homem nem tão pouco
mulher. E descobre que não é nada. Não é
homem nem mulher.

JULIO SEVERO
(escritor e membro de pastoral evangélica)

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