domingo, 29 de abril de 2012

POR QUE INCOMODA TANTO A NOSSA AUTONOMIA?


Eu não consigo entender
Essa tal filosofia
Que me impede de fazer
Aquilo que eu pretendia
Que me chama de bandida,
Que me deixa oprimida,
Que me nega autonomia.

Sou uma mulher muito forte
Vivo a vida dirigindo
E assuntos de toda sorte,
Estou sempre decidindo.
Só que quando é sobre mim,
Sobre meu corpo e meu fim
Há o mundo me impedindo.

Eu custei a entender
Que a liberdade é negada
A toda e qualquer mulher
Que não quer ser sujeitada
Que abre a boca e grita
Que ‘nunca será bandida’
Por uma decisão tomada.

Já fui criminalizada
Tive a face apedrejada
Só por tentar exercer
O direito que penso ter
De cessar minha gravidez
De modo seguro e cortês
Sem ser presa nem morrer.

Mas não há cidadania
Há apenas sujeição
Pra aquela que contraria
Moral e religião
É como se a biologia
Fosse a ideologia
Que embasa a Criação.

Minhas companheiras morreram
Em abortos clandestinos
E se não tivessem partido
Quais seriam seus destinos?
A morte de coração
Dentro de qualquer prisão
Por julgamentos divinos.

Nós, mulheres, precisamos
Pensar coletivamente
Que a guerra que enfrentamos
No passado e no presente
É o quadro cultural
Machista e patriarcal
Que ainda é evidente

Quero poder decidir
Sobre minha vida e meu corpo
Ter liberdade de agir
De optar pelo aborto
De modo decente e seguro
Sem estar em cima do muro
E sem ver o meu corpo morto.

Exijo dignidade
Poder ter cidadania
Tendo a possibilidade
De uma existência sadia
Mas me pergunto, num canto,
Por que incomoda tanto
A nossa autonomia?

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