sexta-feira, 29 de julho de 2011

O espiritismo embranqueceu a cultura afro do candomblé. Não é mais o negro-pobre-caboclo, é o branco-intelectual-espírita.
Às vezes a vida fica exatamente assim:
Uma cestinha cheia de novelos de lã coloridos e sobrepostos uns aos outros.
Tudo enrolado em si e, ao mesmo tempo, emaranhado externamente, numa distribuição sem nexo algum.
Alguns destacam-se mais, outros menos. Os de cores opacas nos deixam angustiados, os de cores vivas, alegram.
Os escuros nos fazem refletir um pouco mais (a escuridão muitas vezes é um negócio bom danado... dá até vontade de demorar mais nela, porque ali a gente meio que se esconde).
Tudo na sua perfeita e complexa contradição. Porque essa é uma daquelas confusões que fazem sentido.
O problema é quando o gato-persa pula na cesta e balança, sacode, mistura. Êta danado, aí lasca tudo.
Você fica perdida, ali no meio de um monte de fio enrolado, com cara de nó-cego, que nem o maior dos escoteiros consegue desatar. Mesmo que você não tenha esquecido as regras e tenha estado constantemente "sempre alerta", você não tem muita culpa. Os gatos fazem isso. Eles são terríveis.
As cores misturaram-se todas, as mais importantes caem no fundo, as irrelevantes ficam em cima, as mais-ou-menos caem da cesta. E tá feito o carnaval. Pena que é julho e não fevereiro.
E tem mais essa: a idade aumentou.
Em breve você precisará utilizar esses mesmos novelos de lã para tricotar na sua cadeira de balanço.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Há tristeza no Brasil e no mundo. Mas da minha janela vejo uma cerejeira toda florida.
A natureza, mesmo ferida, ainda gosta de nós.
E de graça.

(Leonardo Boff)

terça-feira, 26 de julho de 2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Madame Cézanne me pareceu uma pessoa bastante infeliz.
Seus vários retratos à óleo, pintados por seu marido, traduzem uma melancolia tão profunda, que chega a ser impossível imaginá-la sorrindo.
É bem provável que houvesse nela uma desejo íntimo e secreto de manifestar-se artisticamente. De tomar as tintas de seu esposo fracassado (Paul Cézanne só atingiu a maturidade e o reconhecimento artístico no fim de sua carreira), rasgar as telas em que era retratada, e pintá-las, ela mesma, em cores vivas e contrastantes (nem mesmo a poltrona amarela lhe dera vida).
Possivelmente, Madame Cézanne não tivera escolha, não lhe restara qualquer lampejo de esperança. O brilho nos olhos lhe fora tolhido após o episódio mais transformador de sua vida: aquele que a fez 'Madame'.
Ser Madame provavelmente a impedira de tocar em tintas e telas.
De sonhar, de criar, de ser.
E, assim, no lugar de pintar quadros brilhantes, mergulhada em cores e sonhos, num mundo imaginário e delirante, que seria unicamente seu, Madame Cézanne tornara-se modelo, objeto de perspectiva, matéria-prima, natureza morta.




sexta-feira, 22 de julho de 2011

Odeio dar satisfações:
Odeio ter que explicar-me para deixar alguém satisfeito.

A tonga da mironga do kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que ouve e não fala
Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê

(Vinícius e Toquinho)


Marchas chilenas reivindicando reformas radicais na educação: 80 mil manifestantes, entre estudantes e trabalhadores, fortemente reprimidos, como manda o cerimonial. No corpo, a força política da mobilização. Na mente, a crença no poder popular. Como resultado: a tremedeira das pernas da direita liberal.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Olhe Aqui, Mr. Buster

Olhe aqui, Mr. Buster: está muito certo
Que o Sr. tenha um apartamento em Park Avenue e uma casa em Beverly Hills.
Está muito certo que em seu apartamento de Park Avenue
O Sr. tenha um caco de friso do Partenon, e no quintal de sua casa em Hollywood
Um poço de petróleo trabalhando de dia para lhe dar dinheiro e de noite para lhe dar insônia
Está muito certo que em ambas as residências
O Sr. tenha geladeiras gigantescas capazes de conservar o seu preconceito racial
Por muitos anos a vir, e vacuum-cleaners com mais chupo
Que um beijo de Marilyn Monroe, e máquinas de lavar
Capazes de apagar a mancha de seu desgosto de ter posto tanto dinheiro em vão na guerra da Coréia.
Está certo que em sua mesa as torradas saltem nervosamente de torradeiras automáticas
E suas portas se abram com célula fotelétrica. Está muito certo
Que o Sr. tenha cinema em casa para os meninos verem filmes de mocinho
Isto sem falar nos quatro aparelhos de televisão e na fabulosa hi-fi
Com alto-falantes espalhados por todos os andares, inclusive nos banheiros.
Está muito certo que a Sra. Buster seja citada uma vez por mês por Elsa Maxwell
E tenha dois psiquiatras: um em Nova York, outro em Los Angeles, para as duas "estações" do ano.
Está tudo muito certo, Mr. Buster - o Sr. ainda acabará governador do seu estado
E sem dúvida presidente de muitas companhias de petróleo, aço e consciências enlatadas.
Mas me diga uma coisa, Mr. Buster
Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:
O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha?
O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal?
O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?



(Vinícius de Moraes)

domingo, 17 de julho de 2011

Confusão, confusão.
É áspera e silenciosa.
Não mostra fins de túneis, mas frias e angustiantes impressões.
Parece que não existe resposta para a sua pergunta.
Nem mesmo as perguntas têm dimensão do que pretendem perguntar.
Porque até isso está confuso.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O problema é que a gente espera demais.
E quem espera não vai.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Me irrita bastante o desejo do saber.
Me irrita o desperdício.
E a perda de tempo.
O desconhecimento.
A imaginação.
Me irrita saber, quando jamais deveria,
o que não adianta.
Me irrita a minha tolerância.
Pretendo transformá-los todos em indiferença.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Se perguntarmos a um garotinho de dez anos de idade como ele se imagina aos trinta anos, ele provavelmente responderá que se vê como um grande médico, ou como um grande astro do futebol. Se fizermos a mesma pergunta a uma garotinha da mesma faixa etária, ela pode até responder que será médica, ou modelo, mas provavelmente enfatizará o desejo de, aos trinta anos, estar casada, possuir uma bela casa e, quem sabe, lindos filhos. Se, aos trinta anos, essas duas crianças, já crescidas, não tiverem se casado, a mulher possivelmente será médica e estará preocupadíssima com a probabilidade de tornar-se solteirona e de passar da idade para casar e ter filhos. E o homem, enfatize-se, possivelmente apenas será médico.

domingo, 3 de julho de 2011

Não sei o que é mais genial:

Isso:

Você bagunçou meu coração
Tirou ele do peito
E sacudiu pela calçada
Pisou em cima
E esmagou minha razão
Eu já não era muito
E agora não sou mais nada.
Você fez de mim o que queria
Tirou minha alegria
Desmanchou o meu viver
Fez um buraco
Dentro da minha saudade
Fez uma tampa de pedra
P'reu nunca mais te esquecer

Ou isso:

Ela dançando e balançando os cachos
Que meus cento e vinte baixos
Quase viram um pé-de-bode
Do lado dela um sujeito sem jeito
E eu aqui com dor no peito
Mas como é que pode
Tava tocando um baião cheio de dedo
Quando dei fé tava tocando Chopin
Menina você vai me dando asa
Que eu levo você pra casa
E a gente faz um monte de tamboretim

(Tudin de Santanna)

sábado, 2 de julho de 2011

Quase metade das mulheres já sofreu violência doméstica no Brasil

Em pesquisa sobre violência doméstica, divulgada nesta terça-feira, pelo Instituto Avon e pela Ipsos, revela que 47% das mulheres confessaram que já foram agredidas fisicamente dentro de casa. O levantamento "Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil" revelou ainda que, na região Centro-Oeste do país, o medo de ser morta é o principal motivo das mulheres agredidas não abandonarem os seus agressores. O motivo foi apontado por 21% das entrevistadas na região. Nos estados do Sudeste, o medo de ser morta caso rompa a relação chega a 15%. No Sul, 16%. O Nordeste tem o menor índice: 13%. O estudo também mostrou que o alcoolismo e o ciúme são os principais motivos da agressão à mulher. - É uma vergonha a mulher não sair de casa porque podem ser mortas. Ciúme não é paixão. É algo mais complexo. O homem acha que tem posse da mulher. E a sociedade machista é um problema porque acha que a mulher não tem direito à autoestima e nem pode falar, se manifestar - comenta a socióloga Fátima Jordão, conselheira do Instituto Patrícia Galvão, Ong que defende os direitos da mulher.

Entre as mulheres agredidas no país, 15% apontam que são forçadas a fazer sexo com o companheiro. Os homens também admitem que já agrediram fisicamente as mulheres: 38%. Além de ciúmes e alcoolismo, eles confessam que já bateram nas companheiras sem motivo (12% das razões apontadas). A falta de dinheiro para viver sem o companheiro também é um motivo apontado pelas mulheres que não largam os seus agressores (25%). O estudo mostrou que a sociedade não confia na proteção jurídica e policial nos casos de violência doméstica. Essa é a percepção de 59% das mulheres e de 48% dos homens. - Denunciar depende da coragem da mulher. O número de denúncias feitas ainda é pequeno em relação à violência que existe. Isso acontece porque as políticas públicas, que incluem delegacias especializadas e centros de referência, para que a mulher confie e vá denunciar ainda estão aquém da necessidade - diz Maria da Penha Fernandes, que teve a história de vida como inspiração na criação da Lei Maria da Penha, que completará cinco anos em vigor. Em 1983, Maria da Penha ficou paraplégica após levar um tiro do marido.

Atualmente, o país tem 388 delegacias especializadas no atendimento à mulher, 70 juizados de violência doméstica, 193 centros de referência de atendimento à mulher e 71 casas para abrigo temporário. A pesquisa foi feita em 70 municípios brasileiros, com 1.800 homens e mulheres, entre 31 de janeiro e 10 de fevereiro. Para relatar a violência vivenciada, os entrevistados responderam um questionário sigiloso e devolveram o envelope lacrado.


A reportagem é do site O Globo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O bom da vida é o mistério.
Nada tem graça sem aquela coisinha duvidosa do 'será?'.
Bom mesmo é não saber. E ficar pensando.