quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Wikileaks: EUA queriam que Brasil ajudasse a espionar Chávez

Um despacho confidencial publicado pelo site Wikileaks nesta quarta-feira (5/1) revela que o embaixador norte-americano propôs ao governo brasileiro “compartilhar inteligência” sobre o presidente da Venezuela Hugo Chávez em 2005.


A proposta foi feita durante uma reunião em 14 de março de 2005 entre John Danilovich, então embaixador, e o então ministro das relações exteriores, Celso Amorim. O embaixador abriu a conversa dizendo que o governo norte-americano se preocupava com a retórica e as ações de Chávez e o considerava como uma “ameaça à região”.

“Ele pediu que o ministro do exterior Amorim considere institucionalizar uma parceria política mais intensa entre os governos brasileiro e norte-americano em relação a Chávez, e assinar um acordo de compartilhamento de inteligência”, disse, segundo o texto.

Segundo o despacho, Amorim foi direto ao rejeitar a aliança contra o venezuelano.

“Não vemos Chávez como uma ameaça”, teria dito o agora ex-chanceler, antes de defender a “maneira democrática” como o venezuelano fora eleito e o seu apoio popular. “Nós temos que trabalhar com ele e não queremos fazer nada que estrague nossa relação”.

Amorim teria explicado que a relação entre os dois países é “sensível” e que o Brasil não podia fazer nada que pudesse minar sua “credibilidade” perante Chávez, já que buscava “influenciá-lo em uma posição mais positiva”. Um exemplo disso, segundo Amorim, foi que Lula teria sugerido a Chávez, em uma reunião no Uruguai, que ele “baixasse o tom da sua retórica”.

Em outra ocasião, Lula teria persuadido o governante venezuelano a não nadar em uma praia chilena que ele queria reivindicar para a Bolívia diante da imprensa local. A Bolívia mantém uma disputa com o Chile sobre a sua antiga saída para o Pacífico, perdida para o país vizinho na Guerra do Pacífico (1879-1883).

Rejeição seca

Apesar de rejeitar a proposta norte-americana, Amorim teria dito que o Brasil gostaria de aumentar o diálogo sobre Chávez com os EUA e que se interessava em obter “qualquer inteligência” que os norte-americanos quisessem fornecer. No despacho, Danilovich afirma que Amorim “não comprou” a ideia de que Chávez seria uma ameaça.

“A rejeição seca a compartilhar inteligência foi equilibrada pela sua vontade de aumentar a colaboração conosco no nível político com relação à Venezuela, e nós devemos buscar maneiras de explorar essa abertura para defender nosso argumento de que o Chávez representa um perigo. Fornecer mais informações detalhadas ao governo brasileiro sobre direitos humanos e ações repressivas dentro da Venezuela, bem como quaisquer informações sobre o que aprontam grupos apoiados pelo presidente da Venezuela em outros países (mesmo que signifique oferecer informações de inteligência unilateralmente) pode ser parte dessa colaboração política”, escreveu o diplomata.

Na mesma reunião, Amorim disse que Lula mantinha contato direto com Evo Morales, então líder da oposição boliviana, para convencê-lo a manter uma linha democrática. Amorim também se comprometeu a manter a “linguagem” do Conselho de Segurança da ONU na resolução da I Cúpula América do Sul-Países Árabes em 10 e 11 de maio de 2005.

(Opera Mundi)

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